Minha filha,
Sonhei-te
Nas jovens e tépidas
Madrugadas
Da nossa terra.
À beira do mar imenso,
Pelas tardes calmas
Em que a brisa,
Acariciando as rochas,
Esvoaçava
Os teus cabelos de oiro
Por sobre o celeste azul
Da linha do horizonte.
Nos teus olhos, pus o sol;
No teu rosto,
O rosado das camarinhas,
Que despontam
À borda das canadas;
Nos teus lábios,
O vermelho generoso
Das papoilas rebeldes,
Sorrindo nos bardos.
No teu coração,
(Sim, Catarina,
Eu também desenhei o coração)
Escrevi: Deus.
Minha filha,
Foi um acto de amor
Tão grande
Como aquele
De que viveste.
E, quando ele batia
No ventre da tua mãe,
Descodificávamos
Embevecidos
Os teus solilóquios
E, ansiosos,
Esperávamos o dia
De te embalar.
Minha filha,
Perscrutando o horizonte,
Ainda esperamos esse dia.
O sol já não brilha,
As camarinhas secaram,
As papoilas murcharam,
Só ficou Deus
Na eterna cadência
Do clínico e inesquecível
Palpitar
Do teu coração.
O sonho,
Esse...
Jaz numa pequenina campa
Onde,
Desolados,
Te deixámos
Numa manhã
Luminosa
Do Verão mais triste
Que há memória.
. ...
. SOLIDÃO
. AQUEL...
. Enquanto houver amizade.....