Quando eu morrer, me enterrem ao sol-pôr
No meio do deserto. Sobre a areia,
Disponham uma cruz e uma candeia
E, em seguida, partam, por favor.
Quero ficar sozinho nesta dor,
Neste frio de alma que vagueia
P'los dias que se vão na melopeia
Do silêncio que queima em meu redor.
De entre todas, a luz do firmamento
Uma estrela, em jeito de ternura,
À candeia dará por alimento.
E o vento, varrendo a planura,
Das areias fará assentamento
E mais profunda a minha sepultura.
Sinto ainda o abraço que me deste,
Minha mãe, quando a morte te levou,
Junto ao peito, ao soprar do vento agreste
Que da minha tua alma arrancou.
Braços longos, erguidos a oeste
Onde o sol, lacrimando, se ocultou,
Braços doces de amor que me ofereceste,
Um amor que ninguém mais igualou.
Aquele abraço, mãe, ao sol poente,
Na solidão da minha madrugada
É a sombra da cruz dum indigente
Pedindo esmola à beira da estrada,
Sem guarida, cismando tristemente
No único amor que teve de verdade.
. ...
. SOLIDÃO
. AQUEL...
. Enquanto houver amizade.....