Sexta-feira, 6 de Julho de 2007

...

 

UM SOPRO DE VIDA

 

Minha filha,

Sonhei-te

Nas jovens e tépidas

Madrugadas

Da nossa terra.

 

Desenhei o teu rosto

À beira do mar imenso,

Pelas tardes calmas

Em que a brisa,

Acariciando as rochas,

Esvoaçava

Os teus cabelos de oiro

Por sobre o celeste azul

Da linha do horizonte.

Nos teus olhos, pus o sol;

No teu rosto,

O rosado das camarinhas,

Que despontam

À borda das canadas;

Nos teus lábios,

O vermelho generoso

Das papoilas rebeldes,

Sorrindo nos bardos.

 

No teu coração,

(Sim, Catarina,

Eu também desenhei o coração)

Escrevi: Deus.

 

Minha filha,

Foi um acto de amor

Tão grande

Como aquele

De que viveste.

 

E, quando ele batia

No ventre da tua mãe,

Descodificávamos

Embevecidos

Os teus solilóquios

E, ansiosos,

Esperávamos o dia

De te embalar.

 

 À beira do mar imenso,

Minha filha,

Perscrutando o horizonte,

Ainda esperamos esse dia.

 

O sol já não brilha,

As camarinhas secaram,

As papoilas murcharam,

Só ficou Deus

Na eterna cadência

Do clínico e inesquecível

Palpitar
Do teu coração.

 

O sonho,

Esse...

Jaz numa pequenina campa

Onde,

Desolados,

Te deixámos

Numa manhã

Luminosa

Do Verão mais triste

Que há memória.

publicado por 3kqv45n às 23:11
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Quarta-feira, 20 de Junho de 2007

SOLIDÃO

Quando eu morrer, me enterrem ao sol-pôr

No meio do deserto. Sobre a areia,

Disponham uma cruz e uma candeia

E, em seguida, partam, por favor.

 

Quero ficar sozinho nesta dor,

Neste frio de alma que vagueia

P'los dias que se vão na melopeia

Do silêncio que queima em meu redor.

 

De entre todas, a luz do firmamento

Uma estrela, em jeito de ternura,

À candeia dará por alimento.

 

E o vento, varrendo a planura,

Das areias fará assentamento

E mais profunda a minha sepultura.

 

publicado por 3kqv45n às 22:59
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AQUELE ABRAÇO

Sinto ainda o abraço que me deste,

Minha mãe, quando a morte te levou,

Junto ao peito, ao soprar do vento agreste

Que da minha tua alma arrancou.

 

Braços longos, erguidos a oeste

Onde o sol, lacrimando, se ocultou,

Braços doces de amor que me ofereceste,

Um amor que ninguém mais igualou.

 

Aquele abraço, mãe, ao sol poente,

Na solidão da minha madrugada

É a sombra da cruz dum indigente

 

Pedindo esmola à beira da estrada,

Sem guarida, cismando tristemente

No único amor que teve de verdade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por 3kqv45n às 22:53
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